outubro 27, 2014

No True Magic. Obrigado.


Decorridos três anos da edição do “Drunken Sailors & Happy Pirates”, hoje, dia 27 de Outubro de 2014, foi o dia que escolhemos para estrear o nosso mais recente álbum: No True Magic. Ainda não havíamos terminado as gravações de “Drunken Sailors & Happy Pirates" e já algumas das músicas deste novo trabalho começavam a surgir. Porém, sabíamos de antemão que seriam necessários, no mínimo, três anos para o poder terminar. Depois de embriagados pelo processo criativo, o tempo que passou desde a génese das primeiras músicas deste álbum permitiu que nos acercássemos da razão. O tempo tornar-se-ia, mais uma vez, no melhor juiz dos nossos actos. Estes anos serviram para poder agora oferecer este novo grupo de histórias a vós, que já nos ouviste, e a vós, que nos poderão vir a ouvir. Porque sem o vosso coração aberto para receber as nossas canções, quem iria sentir o nosso que escancarámos para as criar?

Ainda que a criação seja frequentemente considerada como um acto solitário, tivemos a sorte e o privilégio de neste álbum poder privar com outros músicos que nos ajudaram a engrandecer a forma final de cada canção. Guardamos para eles os nossos agradecimentos no verso da capa da edição física deste álbum, mas não podemos aqui olvidar os seus nomes. O nosso grande companheiro Guilherme Pimenta que gravou todas as baterias e que nos acompanha na estrada há três anos. A Maria Côrte, também companheira de estrada, que nos trouxe a harpa, violino e viola de arco. O nosso velho parceiro Gito Lima que veio acompanhado do contrabaixo e que o partilhou com o Pedro Serra e o Miguel Gelpi. O Laurent Rossi que trouxe a trompa e o Hugo Fernandes com o seu violoncelo. A Carla Torgerson que nos ofereceu uma voz pela qual nos apaixonámos há quase 20 anos e por fim a nossa eterna cúmplice que, não nos acompanhando agora, terá sempre um trono no nosso coração, a Susana Ribeiro. E por detrás de todas estes sons há as mãos invisíveis que nos ajudaram a gravar No True Magic e sem as quais a ilusão não seria mantida: Glenn Slater (Wakatake Studio), Sérgio Milhano (Ponto Zurca Studio) e o João P. Miranda (Attack-Release Studio), que para além de nos ajudar na gravação também o misturou e masterizou. E por fim, se vierem a ter o álbum físico na mão, saibam que as fotos, tão mágicas na sua concepção, são da nossa fotógrafa Sofia Silva, da Paula Lourenço e do Miguel Duarte, e que toda a concepção do design gráfico é assinada por Gito Lima, que aqui acaba por receber dois agradecimentos, ainda que estes nos pareçam poucos, tal é a generosidade com que nos agraciou. Generosidade: sim, é isso que recebemos de todas as pessoas que se envolveram na criação deste álbum. Estamos profundamente gratos a cada uma delas. Os nossos agradecimentos estendem-se ainda a quem tão próximo está de nós em todas as horas: à Daniela, à Mónica, ao Sebastião Salgueiro, às nossas famílias e a tantas outras pessoas que contribuíram para este álbum e às quais, dado o espaço diminuto e o volume da nossa gratidão, apenas podemos oferecer este pequeno gesto. 

Não nos vamos deter na explicação do conceito deste álbum. Há um parágrafo no final desta nossa missiva que cumpre essa finalidade. Quem já nos conhece, sabe que os nossos álbuns foram sempre construídos em torno de um conceito e que existe uma razão para tudo o que neles reside. Nada é deixado ao acaso e não existe uma insignificância sem significado. Talvez por ser o quarto álbum, a experiência da construção dos anteriores vai-nos tornando melhores conhecedores das razões que nos movem. Essas forças motrizes agirão sempre de diferentes formas, trilhando vários caminhos ao vosso encontro. Aqui apresentamos o resultado de mais uma viagem para chegar até vós e às portas do vosso coração.

João Rui, Jorri
a Jigsaw
27 de Outubro de 2014


O conceito: NO TRUE MAGIC aborda a questão da suspensão da mortalidade. Talvez que até ao fim acreditaremos na promessa dos milagres – ou no milagre maior da imortalidade. Na magia, quando é por fim revelado o processo do truque, este deixa de ser magia para se tornar ilusionismo. Em 1817, o poeta e filósofo Samuel Taylor Coleridge cunhou o termo “willing suspension of disbelief”, que na abordagem da literatura permitiria ao leitor a suspensão do julgamento da implausibilidade de uma determinada narrativa. Neste álbum, é assim que se encara a mortalidade. É esta a premissa que justifica a manutenção das nossas crenças aliviadas do peso dessa inevitabilidade. NO TRUE MAGIC revela-nos a aceitação dos termos da nossa mortalidade.

Para adquirir o álbum podem fazê-lo em www.ajigsaw.net

março 10, 2014

a Jigsaw - Postcards From Hell [Official Video]




 

"The Strangest Friend" foi o primeiro tema que ouvi e logo nesse momento imaginei todos aqueles ritmos e sons distintos traduzidos em cores e texturas animadas. Pessoalmente, o nosso encontro foi nos estúdios da Antena1, no programa do Jorge Afonso. Como é hábito, trazia comigo o bloco de desenho. Achei o instrumento do Jorri fascinante e num instante dei-lhe forma no papel. No final do programa, em conversa à roda dos desenhos, partilhei-lhes que imaginava a sua música através da animação, e umas frases mais tarde convidaram-me a criar um vídeo original para um dos seus temas ainda por estrear. Disse imediatamente que sim.
Uns dias depois, numa troca de emails, o João Rui enviou-me o "Postcards from Hell" e explicou-me que era uma mensagem para aqueles que os acompanharam e que os transformaram na identidade que é hoje a Jigsaw.
A partir daí ofereceram-me liberdade total para criar uma animação, sem deadlines ou quaisquer premissas estéticas;
Creio que o melhor que podia fazer era oferecer a minha criatividade e tornar visual as sensações que Postcards me provoca. Ela fala do conhecimento e de como este nos move e constrói a nossa identidade. A forma que encontrei de tornar visual este conhecimento foi quase imediata: representá-lo sob a imagem de fluxo de tintas aguadas, como se fosse um rio, uma corrente ao longo da canção. Nessa corrente viajam as suas memórias, relações, desilusões e aprendizagens. A figura do lobo, personagem principal, pretende ser uma representação da identidade a Jigsaw, que ao longo de todo o vídeo vai velejando espaços que partilha com outros. Por vezes perde o seu navio, o seu rumo, desvia-se um pouco, mas chega sempre ao fim consciente e em sintonia com a sua identidade.
Agradeço muito esta oportunidade, porque são trabalhos como este que nos permitem conhecer mais um bocadinho daquilo que somos. Penso que o enorme prazer e privilégio que senti ao criar esta pequena animação se pode traduzir pelo carácter experimental, curioso e multifacetado da sua estética. Também não seria possível de outra forma, se não falássemos de excelentes fazedores de música.

Aos a Jigsaw, um enorme obrigado!
Maria Inês Afonso

dezembro 09, 2013

a Jigsaw - Tree (Blind Zero) [Official Video]


Estando a trabalhar num projecto pessoal de Fotografia que consiste na desconstrução do “Álbum de família”, fui convidado para realizar o videoclip do tema “Tree” pela Sofia Silva, que me propôs utilizar fotografias de infância dos A Jigsaw.  Mesmo sem conhecer a banda pessoalmente e nunca ter realizado um trabalho do género, aceitei de imediato. Grande desafio! Deram-me liberdade total no processo criativo. Utilizei também fotografias mais recentes do grupo e excertos de videoclips anteriores. O objectivo não foi o de ilustrar a letra do tema mas sim criar um pequeno álbum da família a Jigsaw, as imagens utilizadas são fragmentos de vida do grupo que vão evoluindo num vai e vem, com alguma linha cronológica e, talvez, fica apenas o conceito de nostalgia comun ao “Álbum de Família”. 
Christopher Marques

dezembro 01, 2013

a Jigsaw - Dark Rider [Official Video]


Tinha conhecido a banda há pouco mais de um ano, num showcase que aleatoriamente assisti na FNAC Leiria, pouco tento depois, através da Cátia Biscaia, recebi o convite dos a Jigsaw para fazer um videoclip para o seu novo tema "Dark Rider", a condição era: faz o que quiseres! Sendo a melhor das condições que um autor criativo poder ter, é também a condição que nos acarreta mais responsabilidade.
Aproveitei umas férias com um amigo meu em Inglaterra, e filmei, filmei, e filmei, não fosse chegar a Portugal e me faltassem imagens. Pois bem, cheguei a Portugal e faltaram imagens...aproveitei o facto do deadline inicial se ter prolongado, e fui novamente de férias para Inglaterra, desta vez já sabia concretamente as imagens que me faltavam. A isto juntei uma imagem de arquivo dos a Jigsaw a tocarem nas ruas de Zurique. E aqui está o resultado final.

novembro 01, 2013

a Jigsaw - Until You Break [Official Video]


Foi em Madrid que vi os “a Jigsaw” darem um concerto intimista e totalmente acústico numa pequena livraria. O local estava repleto de olhos e ouvidos na direção do João e do Jorri. Acabou o concerto e a Carina quis comprar o vinil. Falámos directamente com eles. A conversa fluiu porque todos mostraram uma simpatia e humildade contagiante. E a compra de um disco transformou-se numa interessante troca de ideias. Foi assim que os “a Jigsaw” me fizeram a proposta para realizar, com total liberdade, um vídeo para uma das suas novas músicas. Um desafio. Um privilégio.
Desde logo o objectivo a que me propus foi o de criar não só um vídeo sobre a música, a letra e os próprios 'a Jigsaw' como também uma perspectiva independente do conjunto destes três elementos. Pretendi construir uma sequência de imagens com vida própria, com a sua história, e que, ao mesmo tempo, pudesse ser interpretada das mais variadas formas sem nunca perder a verdadeira personalidade. E a ideia final surgiu naturalmente tendo em conta a minha visão pessoal da vida e da forma como a gosto de contar através de imagens, sons e palavras.
Quero deixar um obrigado a todos os que estiveram comigo lado a lado na construção destes rápidos minutos. Foi uma pequena grande viagem, repleta de obstáculos que foram ultrapassados com grande prazer.
E um grande obrigado aos 'a Jigsaw' pela oportunidade. Espero que este vídeo faça justiça à vossa música.
Um abraço a todos.

outubro 05, 2013

a Jigsaw - Rooftop Joe


A premissa deste teledisco foi-me sugerida pela banda, na altura foi-me dito: “Temos a coisa perfeita para ti, é a tua cara!” Fiquei contente, pois depreendi que a minha cara seria diferente do que se costuma ver por aí na área do teledisco - e porque o D. Roberto rebenta a cara a todos os que o antagonizam (gosto de pensar que sou assim, se bem que a realidade é bem mais irónica do que isso). Questões de cara à parte, cedo me apercebi que que a pessoa com quem viria a trabalhar, Rui Sousa, é um verdadeiro Duncan MacLeod do mariotenismo em Portugal, e que isso merecia todo o respeito e responsabilidade da minha parte. E ainda mais porque o teatro D. Roberto é das tradições portuguesas que mais me surpreendeu positivamente nos últimos tempos, exacerbando um nacionalismo cultural que tem vindo a crescer em mim, e devo este ultimo episódio aos a Jigsaw.
Acrescenta-se o facto de o Rui e os a Jigsaw terem conjugado vontades artísticas em contar uma das lendas mais famosas de Portugal, o Zé dos Telhados.
Assustei-me ao inicio: como é que eu filmo marionetas? Decidi filma-las como costumo filmar teatro. O grande desafio para mim verificou-se na edição, pois a peça tem à volta de 20 minutos, e são todos bons de se ver. Aí recuperei uma ideia que tinha tido durante as filmagens, a de dar uma roupagem “silent movie”, muito inspirada no filme  de 1911 “Os Crimes de Diogo Alves” de João Tavares, aproveitando os intertítulos tradicionais para contar a história que Rui construiu, condensando a duração até aos cerca de 4 minutos, tempo da música dos a Jigsaw.
Isto acontece a todo o editor quando finalmente tem um final cut: ver a montagem vezes sem conta. E eu ri-me à desgarrada, muito, de todas as vezes.

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Conta que do antigo reportório do Teatro Dom Roberto faria parte a peça 'Zé do Telhado'.
Aquando do desafio lançado às Marionetas da Feira por A Jigsaw, logo me ocorreu toda a encenação e elenco para a acção do filme.
Criámos o personagem 'Zé do Telhado' e a sua mulher, que contracenando com todos os outros personagens de 'O Barbeiro' (outra peça do reportório clássico), geravam uma acção parecida com as histórias tradicionais e com a extinta peça homónima deste herói.
Acerca do Teatro Dom Roberto, ou Teatro de Robertos, é tida como uma das mais antigas artes de rua popular portuguesas descendente da Commedia Dell'Arte Italiana, e do teatro Pul vinda de Itália no século XVIII. O nosso herói é o Dom Roberto - um justiceiro popular. Outros paises herdaram os seus heróis influenciados de igual modo, dando origem ao Mr. Punch na Inglaterra, Guignol na França, Kasper na Alemanha, etc.
As Marionetas da Feira produzem espectáculos de teor tradicional onde recuperam as quase extintas artes das Marionetas de Fios dos pavilhões das feiras populares dos Mestre Manuel Rosado e dos Faustinos, e dos Robertos do Mestre António Dias e Domingos Moura.

novembro 19, 2012

a Jigsaw - One Right Lie (Featuring Ruby Ann)

"Ainda me lembro do dia em que se filmou o primeiro videoclip para os A Jigsaw, foi uma tarde bem passada... e agora que penso nisso, já foi há uns bons anos.. O tempo realmente passa e nem nos damos conta, mas o que importa é que este grupo tem vindo a crescer de uma forma exponencial e isso deve-se ao infinito talento dos seus elementos.
É sempre um privilégio de cada vez que filmo ou edito mais um video para eles, mas desta foi a vez da grande música "One Right Lie" que tem vindo a sofrer mutações incríveis ao longo do processo de montagem. De cada vez que me vem parar à mão mais uma versão da música, cada vez gosto mais e acreditem que já a ouvi umas quantas vezes. A verdade é que este video partiu de um principio muito simples e directo, interpretação da música e traduzir o que senti ao ouvi-la, numa coreografia que apesar de ter partido de um conceito meu apenas ganhou vida e foi aperfeiçoado nas mãos da Anita e do Caio (grandes bailarinos).
Quando o João me perguntou se queria fazer um videoclip para eles não achei estranho pois já tínhamos trabalho juntos algumas vezes, mas desta vez havia um pormenor que me interessou ainda mais… liberdade total para se fazer o que se quiser.. aliciante!
Este video teve uma particularidade que nunca me tinha acontecido com qualquer outro que tenha feito, na altura de começar com a produção estava a Ruby fora de Portugal e tive de esperar que ela voltasse para finalizar o video. Azares que acontecem, mas agora o video está aí e espero que gostem."
Nuno Portugal

setembro 27, 2012

a Jigsaw - Dried Up River Blues (Corsage) [Official Video]


“Estávamos em estúdio para entrevistar os a Jigsaw, sobre o disco “Drunken Sailors & Happy Pirates” e para a gravação de dois temas. Num estúdio onde habitualmente faço o trabalho de produção, reportagem e realização. Durante os preparativos, entre conversas e tempos de espera, o João falou-me da k7 de versões, dizendo que estava a propor a amigos a realização de vídeos.
- Não queres fazer um?
- Nunca fiz nenhum, mas… está bem.
Quando conheci as versões claramente me inclinei para a “Dried up river blues”, canção de que gosto bastante, tanto na sua versão original dos Corsage como cantada por a Jigsaw, onde ganha outra dimensão e vive noutro tempo.
Depois das visões lúcidas de circo, trapezistas e de um zoom lento de um palhaço sério no meio do rio, primeiras ideias que me assaltaram a mente, foi precisamente à beira rio que me aconteceu a história de um barco de papel.
Nessa mesma noite voltei para casa e escrevi o guião.
As gravações foram feitas dois dias depois, meia tarde, a correr entre espaços para não se perder o Sol. Fizeram-se muitos barcos de papel suplentes mas dois chegaram. Era Agosto e não havia muita gente para ajudar, e confesso que queria incomodar o menos possível, não sabia o que ia sair dali. Foi gravado com a preciosa ajuda de Marcelo Mariano e Pedro Seixas. Puxei o barco, saltei à corda e andei de baloiço mas isso são tudo coisas que faço habitualmente, com excepção da tarefa de passear um barco de papel com trela de cetim.
Começámos numa estrada que julgava praticamente vazia mas até um rebanho de ovelhas surgiu e terminámos no rio, já com o sol a despedir-se. Márcia Figueiredo, amiga e colega de profissão, viu as imagens, pegou no guião e ofereceu-se para fazer a edição do meu primeiro teledisco. No início imaginei a história em tons de azul, mas o reflexo dourado daquele dia de gravações atraiu-me e ganhou o seu espaço naturalmente.
Ficou como imaginei naquela tarde de verão sentada à beira-rio.
A simples história de um barco de papel. Uma história com tempo para brincar e sonhar”

Carina Esteves

setembro 26, 2012

a Jigsaw - Even You [Official Video]


"A ideia do video surgiu quando os A Jigsaw me fizeram o desafio de produzir um videoclip para a música Even You. O video iria fazer parte de uma colecção de vídeos que a banda está a fazer para o seu novo álbum Happy Sailors and Drunken Pirates. E a liberdade criativa era total. A minha maior preocupação ao criar uma ideia foi a de que o video se destacasse de alguma forma, pelo menos dos outros vídeos que a banda já tinha produzido. Então surgiu a ideia de fazer um videoclip narrativo, sem ter a banda a tocar ou a cantar a música. Mas o desafio não iria ser só meu, pois ia usar a banda como actores e não como músicos...
Criei uma pequena história, um momento na vida destas personagens que iria ser a base do video. Queria que a banda interpretasse a sua música, mas de uma forma física e não musical. A história do video foi de certa forma influenciada pela letra da música, de alguém que foi traído e que jura um dia ter a sua vingança. Mas a história e o papel principal, interpretado pelo João Rui não era a do vingador, mas sim daquele em que a vingança iria ser feita. O anti-heroi, o vilão na verdade. Um vilão que sem o saber, está a ter a sua última ceia e que no final do video depara-se com ao seu destino, sem saída, e sabe que o seu caminho chegou ao fim. Era dele que o vingador falava, quando dizia, Even You... E tudo isto acontece numa época passada, num local longínquo e solitário e numa noite fria, escura e impiedosa.
Penso que consegui contribuir para os A Jigsaw com um videoclip num contexto mais cinemático, mais ficcional, pois é assim que eu sinto que é a música fantástica que eles fazem, extremamente cinemática e visual. Estou muito orgulhoso com o trabalho, foi uma experiência muito boa trabalhar com a banda, ao mostrar muito profissionalismo e dedicação e espero que o videoclip consiga fazer a sua parte na ajuda da expansão da banda pelo mundo fora."

Nuno Dias

julho 13, 2012

Feliz Aniversário Nuno Ávila 13.07.2012


Não recordamos aqui todos os aniversários porque faltaria espaço ou engenho para as homenagens que acabariam por ocupar todos os dias do calendário. E porque recordamos apenas um, não significará que saltámos algumas badaladas do coração. Antes, justifica-se a recordação específica de uma dessas badaladas: a do Nuno Ávila, que é um dos mais importantes marcos da nossa identidade e a quem nunca poderíamos ficar demasiado gratos.
E porque as palavras não substituem um abraço, não adianta alongar as desculpas por uma falta dele. Portanto, se hoje não te encontrarmos para um abraço, Feliz Aniversário Nuno Ávila.
a Jigsaw
João Rui, Susana Ribeiro, Jorri


junho 15, 2012

Pode não ser terrorismo poético, mas não deixa de haver terror nesta poesia (1)

 
© Sofia Silva, Cornerstone #1, 2012 

 
© Sofia Silva, Cornerstone #2, 2012


Revisitamos os lugares que nos são queridos, não só porque nos acolhem no reencontro, mas também porque permitem que se criem novos laços. 


As baladas do “Drunken Sailors & Happy Pirates" são lugares desses: o tempo em que navegam é limpo, mas nem por isso as águas deixam de ser turvas. Que estas histórias se construam como retratos alegóricos não invalida que nasçam de um lugar de verdade e que se sirvam de uma voz sincera. As camadas ajudam a que sejam plenas. 


Se o instrumental pauta pela sua imediatez, no sentido de dispensar os recursos próprios da mediação, o que voz conta adorna aquilo que não pode ser exposto de outra forma, que só assim pode ser oferecido. O violino num chorinho doce e o piano a embalar as lágrimas, uma constante que amortece a voz do João que diz, num tom contido – aqui não se chora, grita-se chorando. 


O mesmo não pode ser dito em relação aos álbuns anteriores dos a Jigsaw, não porque não vivam dessas múltiplas dimensões mas porque a maturidade traz consigo o fatalismo da verdade. O autor deixa, pois, de viver numa zona de exclusão e fica exposto. 


Para bem de todos nós, a arte da vida, o saber dos amantes e a experiência da paternidade só poderão levar os a Jigsaw a uivar à dor para a domesticar (2). 


1. Referência ao conceito de terrorismo poético de Hakim Bey

 2. Alone With The Owl 
Alone with the owls howling “pain, pain, pain” 
Alone with the owls howling “pain” 
Alone with the owls howling “pain, pain, pain” 
You don’t have to live this way 
While I lived was I a stray black dog (x2) 
While I lived was I anything at all 
Did I have to live this way I stood beside the ocean not a single wave 
Beside the ocean not a single wave (x2) 
Not a single left to say With the owl howling “pain, pain, pain” 
With the ocean howling the same With my life howling the same 
Did I have to live this way 

Jason Molina, Let Me Go Let Me Go Let Me Go 

post by Sofia Silva

maio 13, 2012

O desenho do arco [12.05.2012 Viladecáns – Espanha]


Ainda não percorremos a totalidade deste arco que desenha a estrada destas canções; mas este concerto nesta segunda casa que se tornou para nós Espanha, foi o último antes da longa caminhada de regresso às portas do mar. E não escolheria outra mesa para este banquete: rodeado de corações que completaram os nossos, a noite foi inaugurada pelas belas canções dos Partido; e antes que nos entregassem o palco, emprestámos o nosso banjo e devoção à canção “The Weight”, numa homenagem a um marinheiro que agora partiu para não voltar a regressar: Levon Helm (The Band).
Depois desta breve partilha com os Partido, chegou a hora de cravarmos as garras nas tábuas desta nossa embarcação embriagada – e que magnífica tempestade para nos acompanhar a mar alto.
E regressamos ao término do desenho do arco. Às portas de Barcelona, o céu veio despedir-se da nossa ventura desferindo violentos relâmpagos que nos alumiaram o caminho. Que fantástico banquete para nos fortalecer a armadura quebrada que nos sustenta a respiração.
João Rui

The drawing of the Arch [12.05.2012 Viladecáns – Spain] we still haven’t completed this arch that draws the road of these songs; but this concert in Spain, that has become to us a second home, was the last before the long walk back to the doors of the sea. And I would not choose another table for this feast: surrounded by the hearts that completed our own, the night was introduced with the beautiful songs of Partido; and before they handed the stage over to us, we gave the banjo and devotion to the song “The Weight”, as an homage to a sailor that now parted to never return again: Levon Helm (The Band). After this brief sharing of the stage with Partido, the hour came to cling our claws in the wooden planks of this drunken vessel – and what a magnificent storm came about to accompany us to high sea. Now we return to the finishing of the drawing of the arch. By the doors of Barcelona, the sky came to bid us farewell, throwing violent and passionate thunderbolts to light our path. What a fantastic feast to nurture the broken armor that holds our breath. João Rui

maio 12, 2012

O esqueleto de madeira [11.05.2012 Genève – Suíça]


As nuvens que ao longe clamam por chuva, não conseguem afastar de Genève estes 32º, aos quais já não estávamos habituados; e as fibras dos instrumentos vão sussurrando entre si que doravante só o suor lhes aplacará a sede.
João Rui

The wooden skeleton [11.05.2012 Genève – Switzerland] The clouds that are shouting for rain from afar, cannot move these 32º away from Genève. We were not accustomed to them by now. And the fibers of the instruments whisper among themselves that from this day forward, only sweat will quench their thirst. João Rui

maio 11, 2012

O Verão? [10.05.2012 Bern – Suíça]


O verão, finalmente decidiu visitar-nos aqui, tão longe de casa. O coração enche-se destes devaneios do sol e alimenta-se destes olhos que vieram de tão longe para escutar as canções que tínhamos para oferecer.
Obrigado por terem vindo ao encontro desta escuridão.
João Rui


The Summer? [10.05.2012 Bern - Switzerland] The summer finally decided to visit us here, so far from home. The heart is filled with these dreams of the sun and feeds itself with these eyes that have come from afar to hear the songs we had to offer. Thank you for coming to meet this darkness. João Rui

maio 10, 2012

O que se perdeu [09.05.2012 Fribourg/Lausanne – Suíça]


O que era horizonte de verde e negro foi renovado no horizonte através dos alpes que rasgam o céu onde se confundem as nuvens com a neve. Ainda não foi há demasiado tempo. Recordo-me bem desta catedral. A primeira depois de Itália. Onde compreendi que o que se perdeu não se volta mais a encontrar.
O doce abraço de Fribourg e Lausanne concedem momentâneo esquecimento do inevitável peso do tempo.
João Rui

What was lost [09/05/2012 Fribourg / Lausanne - Switzerland] What was green and black horizon was renewed through the Alps on the horizon, that tears the sky where the clouds are mixed with snow. It has not been too long. I remember well this cathedral. The first one after Italy. Where I realized that what is lost is not to be found again. The sweet embrace of Fribourg and Lausanne grant momentary forgetting of the inevitable weight of time. João Rui

maio 09, 2012

As correntes do Limmat [08.05.2012 Zürich – Suíça]


Regressamos à fronteira do rio Limmat com Zürich. Recordo-me da nossa expressão que se confundia com a corrente dos seus braços; perdidos a meio de outra partida, no desejo de permanência. E o que conheço de ti é o que me deixas levar. 
Que noite magnífica. 
Obrigado pelo silêncio e pelos aplausos e gritos das suas pausas.
João Rui


The chains of Limmat [08.05.2012 Zürich – Switzerland] We return to the border of the Limat river with Zürich. I do remember our expression that could be mistaken with the chain of his arms; lost half-way of another departure, in the desire of staying. And what I know of you is what you let me take. What a magnificent night. Thank you for the silence and the applause and screams in its pauses. João Rui

maio 08, 2012

Die letzte Deutsche Nacht [06.05.2012 Bremen – Alemanha]


Chegámos por fim ao último concerto da Alemanha. Agora, a janela onde eu aguardava os corvos das manhãs deixará de ser a mesma – ou alteram-se apenas os horizontes que de cada face se encontravam, ali onde o sonho se confundia com a noite. Partimos de coração pleno, com as oferendas de Marzipan e silêncio que nos rouba o espaço da saudade das portas do mar. Seguimos agora sem a companhia do Daniel e da Saara (Sleepwalker’s Station) que nos acompanharam durante este transe germânico. Até breve meus bravos.
João Rui

The last German night [06.05.2012 Bremen – Germany] at last we arrived at our last gig in Germany. Now, the window where I awaited the crows of the mornings will no longer be the same – or maybe what changes are only the horizons that met there, where dream could be mistaken with the night. We part with our hearts full, with the offerings of Marzipan and silence, which steal from us the space of longing from the doors of the sea. We proceed now without the company of Daniel and Saara (Sleepwalker’s Station) that followed with us in this Germanic flight. See you soon my brave ones. João Rui

maio 06, 2012

O esquecimento da manhã [05.05.2012 Quelkhorner – Alemanha]


Tenho passado ao lado das manhãs. À hora que os passos começam a rasgar as ruas, ainda nem o sonho se desvaneceu.
João Rui 


The forgetfulness of the morning [05.05.2012 Quelkhorner – Germany] I’ve walked alongside mornings.. At the time that steps begin to tear up the streets, the dream has not even faded.
João Rui

maio 05, 2012

O peso da noite [04.05.2012 Schwanewede – Alemanha]


A noite encontrou-nos a meio caminho de lado nenhum. Sussurrou-nos os segredos desta estrada – e fingiu que não a conhecíamos. E partiu como se soubesse a forma de o fazer… sem cicatrizes.
João Rui

The weight of the night [04.05.2012 Schwanewede – Germany] The night found us when we were half way to nowhere. She whispered the secrets of this road – and pretended we didn’t know her. And left as if she knew how to… without scars. João Rui

maio 04, 2012

Die Bremer Stadtmusikanten, ou a construção da identidade [03.05.2012 Hamburgo – Alemanha]


Suponho que não exista forma de me recordar da inocência que ficou para trás, junto às portas da mentira. Creio que o possível seja a memória das últimas palavras que ouvi antes de me perder: a voz da minha mãe que enredava as palavras em frases das quais mais recordo o seu timbre que o significado. E a melodia dessa infância vem agora encontrar-me aqui nesta manhã em Bremen junto à estátua de uma história antiga. 
Mas agora as suas mãos já não conseguem esconder nem as palavras duras das personagens nem a escuridão que tudo abarca: “há algo melhor do que a morte para todos nós em qualquer outro lugar”
João Rui

Die Bremer Stadtmusikanten or the construction of the identity [03.05.2012 Hamburg - Germany] I suppose there is no way to recall the innocence that was left behind the gates of the lie. I think that what is possible is the memory of the last words I heard before I lost myself: the voice of my mother who tangled words in sentences of which I recall more the tone than the meaning. And the melody of that childhood comes now to find me here in this morning of Bremen near the statue of an old story. But now her hands can no longer hide the harsh words of the characters nor the all-encompassing darkness: "there is something better than death for all of us anywhere else" João Rui

maio 03, 2012

A pintura antiga [02.05.2012 Bremen – Alemanha]


As palavras vão-se amontoando junto às portas desta casa de corvos – como velhas histórias que se esquecem ou que se vão renovando conforme a memória as escolhe recordar. Provavelmente os dias que se irão suceder aos anteriores irão desenhar outros quadros na tela que não lhes pertenceria se eu soubesse como recordar todos os dias que não quero esquecer.
João Rui

The old Painting [02.05.2012 Bremen – Germany] The words keep piling up at the gates of this house of ravens - like old stories that you forget, or that will be renewed according to how your memory chooses to remember them. Probably the days succeeding the previous will draw other pictures on the canvas that wouldn't belong to them if I knew how to remember all the days I do not want to forget. João Rui

maio 02, 2012

Crow Covered Tree [01.05.2012 Bremen – Alemanha]


"I remember I woke to find me sitting at the end of the bed
My fingers were calm and resting under my chin
My hands had been waiting to wake me from the strangest dream"

maio 01, 2012

O mar do norte [30.04.2012 Emden – Alemanha]


O mais a norte que encontrei foi o teu mar. Aguardando-me com insuspeitos laivos de Verão, estas margens receberam-nos os passos não como estrangeiros, mas como pródigos filhos, a casa enfim retornados. 
Que doce aroma que trouxe ontem este vento do norte...
João Rui


The Northern Sea [30.04.2012 Emden – Germany] In the furthest to the north, I found your sea. Awaiting me with unsuspected shades of summer, these shores received our steps not as foreigners, but as prodigals sons, at last returning home. What a sweet aroma, this northern sea did bring me… João Rui

abril 30, 2012

The Strangest Friend [29.04.2012 Achim – Alemanha]

"We’re all strangers here, there’s rust in our feet. From the lies we've been told...
There’s a silence to every man, that knows more than he does.
He’s the strangest friend that we could pray for - he knows too much"

abril 29, 2012

Da partida impossível [28.04.2012 Schwanewede – Alemanha]


Porque se me embarga a voz cada vez que murmuro o teu nome? Talvez ainda seja cedo demais para essa batalha. Talvez porque a certeza da tua partida ainda não encontrou o seu lugar no meu coração. Que magnífico porto para tão desolados destroços. Quantas vezes terei que me despedir de ti até que te possa deixar partir? Será mesmo necessário aguardar por tão miserável companhia que é a velhice, para na tua idade encontrar espaço para a tua partida?
Que estranha hora a saudade do teu sorriso escolheu para me visitar
João Rui


Of the impossible departure [04/28/2012 Schwanewede - Germany] why does my voice shiver every time I whisper your name? Perhaps it is still too soon for this battle. Perhaps because the certainty of your departure has not yet found its place in my heart. What a magnificent harbor for such desolate wrecks. How many times do I have to tell you goodbye before I can let you go? Is it really necessary to wait for such a miserable companion as old age, to find space for your departure? What a strange hour that the longing of your smile chose to visit me. João Rui

abril 28, 2012

A escuridão que nos acompanha [27.04.2012 Bremen – Alemanha]


Somos como o mar – e vamos sobrevivendo bem perto da superfície, onde tudo acerca do que somos é claro como as águas que as marés não conseguem fustigar. Mas o olhar atento que perscruta um pouco mais além (ou em profundidade) revela-nos o intangível do espaço em que o invisível existe dentro do nosso ser.
E então recordo-me das tuas palavras “nem nas minhas mãos eu confio” – porque delas é seu mestre a escuridão que em boa verdade somos. Talvez nunca sejamos menos que essa escuridão e todas as outras adições de que nos disfarçamos sejam apenas fantasia ou esperança de luz.
Mas sem esses vestidos, serás sempre um estranho à curiosa dança que a tua escuridão condena.
João Rui


The darkness that accompanies us [27.04.2012 Bremen - Germany] We are like the sea - and we survive well near the surface, where everything is about what we are is clear as the water that tides cannot harass. But the watchful eye, peering a little further (or in depth) reveals the intangible space where the invisible exists within our being. And then I remember your words “Even in my hands I do not trust" – for in truth, their master, is the darkness that we really are. Maybe we are never less than this darkness, and all other additions are just fantasy in disguise or hope of light. But without these dresses, you will always be a stranger to the odd dance that your darkness condemns. João Rui

abril 27, 2012

A viagem dentro de mim [26.04.2012 Hannover – Alemanha]


Terminamos a noite com uma simples frase de um coração talvez mais quebrado que o nosso: “obrigado pela vossa música. Não conseguem imaginar o quanto viajei dentro de mim enquanto nos entregavam as canções. Muito obrigado”.
E depois disto, não há nada mais que eu possa escrever.
João Rui


The journey inside me [26.04.2012 Hannover – Germany] We finished the night with a simple phrase from a heart broken. Probably more than ours: "Thank you for your music. You cannot imagine how much I traveled inside me while you were playing your songs. Thank you so much." And after this, there's really nothing more I can write. João Rui

abril 26, 2012

O porto dos destroços [25.04.2012 Wilhelmshaven – Alemanha]


Como se fosse possível, o sol veio visitar-me com inesperada veemência – e novos companheiros de viagem trouxeram-me oferendas de variegadas origens. Que festim será este, celebrado entre marés de maçapão, envolto em cordas de guitarra?
João Rui


The harbor of wrecks [25.04.2012 Wilhelmshaven – Germany] As if it were possible, the sun came to visit me with unexpected vehemence - and new traveling companions brought me offerings of variegated origins. What is this feast, between tides of marzipan, wrapped in guitar strings? João Rui

abril 25, 2012

O sorriso por entre a chuva de Vinyl [24.04.2012 Bremen – Alemanha]


Nesta noite de chuva em que me veio encontrar a memória de outra vida, chegou-nos às mãos outra reinvenção do Drunken Sailors & Happy Pirates. Desta vez em Vinyl. Novo desenho do Luís Belo e nova masterização do João P. Miranda.
Muchas gracias Raúl y Grabaciones de Impacto! este es un gran sueño!
João Rui
The smile through the Vinyl rain [24.04.2012 Bremen - Germany] This rainy night, while the memory of another life came to visit me, our hands received another reinvention of Drunken Sailors & Happy Pirates. This time is in vinyl. A new design by Luís Belo and a new Mastering by João P. Miranda. Thank you so much Raul and Grabaciones de Impacto! This is a great dream! João Rui

abril 24, 2012

A quietude dos passos [23.04.2012 Bremen – Alemanha]

Se há dias em que a estrada nos embala até ao estertor do dia, outros os há em que o seu balouçar é feito de tão poucas palavras.
João Rui
The quietness of the steps [23.04.2012 Bremen - Germany] If there are days when the road cradles us unto the death of the day, there are others where its swing is made of so few words. João Rui

abril 23, 2012

A temperatura do sangue [22.04.2012 Hannover – Alemanha]

Quis hoje a fortuna que hoje a chuva fosse a nossa companheira de viagem. E que magnífica companhia. Ornamentada com anéis de electricidade, seguiu-nos durante todo o caminho até Hannover.
Mas como dizia, o termómetro das noites é outro. Contar-te-ia a temperatura que estava se houvesse forma de saber qual o ponto de ebulição do sangue. Talvez haja, mas não dentro do coração.
João Rui

The temperature of the blood [22.04.2012 Hannover – Germany] Today fortune made the rain our traveling companion. And what a wonderful company. Ornamented with rings of electricity, it followed us all the way to Hanover. But as I said, the thermometer of the nights is of another kind. I would tell you of the temperature if there was a way of knowing the boiling point of the blood. Perhaps there is, but not inside the heart. João Rui

abril 22, 2012

Da Janela do quarto [21.04.2012 Bremen – Alemanha]

Dizem-me que também aqui é primavera; e que este inverno, como eu lhe chamo, é apenas memória minha das portas do mar. Talvez assim seja: da janela deste meu quarto, os pássaros têm estado a amontoar penas e sonhos e migalhas de árvore nos galhos mais altos delas – como se fossem ninhos. Mas de cada vez que assomo ao parapeito, os meus olhos são recebidos por sombras e véus negros de corvos ruidosos. E no olhar deles antevejo o seu engenho; passamos assim estas manhãs primaveris, escondidos entre a sua penujem ainda mais negra que esta solidão. Não fossem estas noites aquecidas pelo verão das vozes de quem nos veio ouvir, também eu pertenceria ao seu ninho – e seria eu o estranho que me receberia de negro.
João Rui


From the room window [21.04.2012 Bremen - Germany] They tell me that here is also spring time; and that this winter, as I call it, is only my memory from the doors of the sea. It may be so: from the window of my room, the birds have been piling feathers and dreams and crumbs of trees in their upper branches - like nests. But every time I come to the parapet, my eyes are greeted by the shadows and black veils of noisy crows. And in their stare I envision their skill; this is how we get by these spring mornings: hidden among their feathers even darker than this solitude. If it were not for these nights warmed by the summer voices of those who came to hear us, I would also belong to their nest - and it would be I, the stranger that would receive me in black. João Rui

abril 21, 2012

O Bosque [20.04.2012 Osterholz-Scharmbeck – Alemanha]


Por estranho que pareça, os trilhos que hoje percorremos em torno do palco, eram feitos de terra e ornados por grinaldas de pássaros. E de tudo o que os olhos poderiam daí abarcar, guardaram lugar para um barco negro: o Bredbeck Geist, atracado em terra seca, como se fosse uma casa para os corvos da floresta.
Rodeados por eles, esperámos até ao momento em que no grande salão não houvesse espaço para mais uma única pessoa. E assim partimos quando esse fantasma fincava os dentes no leme.
João Rui


The forest [20.04.2012 Osterholz-Scharmbeck – Alemanha] Strange as it might seem, the paths we took to the stage today, were made of earth and ornamented with a garland of birds. And of all the eyes could see from there, they saved a place for a black boat: the Bredbeck Geist. Standing there in dry land, as if it was a house for the crows of the woods. Surrounded by them, we waited in the grand saloon, until there was no place for a single person more. And like this we sailed, while this ghost was sinking his teeth in the rudder. João Rui

abril 20, 2012

A suspensão do segredo [19.04.2012 Groningen – Holanda]


Como poderia eu explicar-te o delírio que ocorre à construção do meu bom assassino? Tenho a certeza que existe uma certa matemática que assiste a todo este processo da construção de uma canção. Mas quanto a mim, o que mais posso é deixar-te observar as notas de rodapé que abandonei na solidão do caderno negro – e que agora aí aguardam pacientes o seu lugar.
João Rui


The suspension of the secret [19.04.2012 Groningen – The Netherlands] How could I explain to you the lingering delirium of the construction of my good assassin? I am sure that there is some math that assists this entire process of building a song. But as for me, the most I can do is to let you look at the footnotes I abandoned in the solitude of the black book - and where they patiently await their place. João Rui

Do Banquete [18.04.2012 Oldenburg – Alemanha]

Acostumei-me a nada aguardar do pouco que a vida me poderia reservar. Então, cada golfada de ar é um banquete e cada pétala um manjar. Assim, as parcas oferendas que me concede o engenho nesta antecâmara de silêncio, guardo-as debaixo da pele até que o sangue as seduza ao seu fim.
Hoje, a noite que nada me prometera, trouxe-me mais do que eu aguardava – e tivemos que retornar a subir os degraus do palco porque os aplausos do que seria o fim não nos permitiam outra casa.
João Rui
Of the banquet [18.04.2012 Oldenburg – Germany] I’ve grown accustomed to wait nothing from the little that life could have in store for me. So, every breath of air is a banquet and every petal a feast. Thus, the small offerings my mind allows me in this room of silence, I keep them under my skin until the blood seduces them to their end. Today, the night, who had promised me nothing, brought me more than what I was waiting for – and we had to go back up the stairs to the stage because the applauses of what would be the end , did not allows us any other home. João Rui

abril 18, 2012

O Cais [17.04.2012 Bremen – Alemanha]

Junto ao cais de Bremen há barcos que conhecem o peso da ausência marítima: onde os pássaros pendurados nos mastros entregam as suas penas ao vento: oscilando como resquício de incêndio e desaparecendo cada vez que um dos meus passos sucede o outro. Há também promessa de partida. É sempre junto ao cais que me recordo dos que partiram não por amor ao mar, mas por despeito da terra. É sempre junto ao cais que me recordo dos que partiram. Dos que partiram sem que deles me possa alguma vez apartar.
E como me faltam.
João Rui
The waterfront [17.04.2012 Bremen – Germany] Near the pier of Bremen there are boats who know the weight of the absence of the sea: where birds hanging on the masts deliver their feathers to the wind: oscillating like reminders of fire and disappearing every time one of my steps follows another. There is also promise of departure. It is always by the waterfront that I remember of the ones that departed not out of love for the sea, but out of spite from the earth. It is always by the waterfront that I remember of the departed. Of those who left and of whom I can never depart. And how they are sorely missed. João Rui

abril 17, 2012

O vento de Bremen [16.04.2012 Bremen – Alemanha]


Encontrei no hábito da escuridão o sorriso que me devolveria a ti. E entre os dedos onde se adivinhavam os outros do silêncio, restava-me o ar que te não retornava a mim. Mas o frio que percorria as ruas de Bremen quebrava-se junto à porta do Litfass, onde o calor nos veio entregar o coração.
João Rui
The wind of Bremen [16.04.2012 Bremen – Germany] in the old habit of the darkness, I found the smile that would bring me back to you. And between the finders where one could guess the others of the silence, I had but the air that would not return you to me. But the cold that ran through the streets of Bremen was breaking by the door of Litfass, where the warmth came to gives us her heart. João Rui